MAIS
UM FIM DE CASAMENTO
Na fila de embarque discutiram feio diante de todos. Foi rompante
incontrolado. Ela, cerca de 25 anos, ele pouco mais de 30. Motivo: a escolha do
assento. Acentuaram tanto a questão do assento que um dos dois, no caso, ele,
perdeu o controle. Mas não deve ter sido a primeira vez. Pareciam acostumados a
tais rompantes.
Os adjetivos e os aumentativos eram tão cruéis que ela chorou e
foi sentar-se amuada num banco. Ele achou que venceu, mas era visível quem
perdera. Deu dó. Para ele faltou um adjetivo: canalha. Não hesitou em dizer
para todos os estranhos na fila de embarque, que ela fora quase uma
prostituta. Jogou lama na esposa para derrotá-la, tudo porque ela reclamara do
assento no fundo da aeronave. O macho descontrolado não aceitou a reclamação
que fora feita baixinho, só entre os dois. Ampliou e superlativou.
Entrei no avião com vontade de enfrentá-lo e dizer umas quantas e
boas, mas imaginei outra explosão dele. Sabendo que eu era padre desancaria sua
fúria contra os 20 séculos da nossa fé. Pessoas com tamanho grau de descontrole
não devem ser confrontadas em público: não sabem perder. Estão no mundo
para nocautear pai, mãe, esposa, filhos e quem mais vier. Egoístas ao extremo
não conhecem a suavidade de um “desculpe, amor, foi descuido meu” Um beijo
selaria aquela reclamação. Mas não: chamou-a de burra, de zero neurônio, de
lerda, de enche-saco, de estrupício, incompetente e de outros nomes
impublicáveis; tudo por conta da marcação de um acento no fim da aeronave.
São milhares os casamentos que terminam pelo egoísmo brutal de um
dos dois. Quando um deles não pode perder e tem que mostrar diante da família e
dos amigos quem detém o controle daquela casa, a casa já deixou de ser um lar.
Virou ringue, no qual um bate o tempo todo e o outro se defende, mas sabe que
mais dia menos dia, cairá fora. Os amigos e familiares acabarão entendendo quem
estilhaçou aqueles vidros.
Começa com o desencanto e a falta de beijos, abraços e sexo. Não
dá para entregar-se a um parceiro que humilha. Se o brutamontes e histérico é
ele ela perde o gosto por sexo. Se a histérica é ela, ele parte para a
indiferença, o que aumenta a histeria dela. É o desmonte da vida a dois, a cada
piada de mau gosto e a cada humilhação infligida no parceiro.
Os conselheiros falam, mas não são ouvidos porque o agressor dará
um jeito de culpar na vítima. Agressor não perde nunca! É doença; agonia
de um amor. Mais um casamento que acabou sem terminar…
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