INTRODUÇÃO
Queridos irmãos, nesta
biografia de São Sebastião, mártir de Cristo, temos o objetivo, não só de
narrar o desenrolar de sua preciosa existência, mas principalmente de
refletirmos juntos sobre sua vida no contexto de nossos dias, buscando pontos
de encontro, semelhanças, atitudes e testemunhos acontecidos entre ele e nós.
Sentimo-nos alegres, pois, juntamente conosco, mais de 350 Paróquias espalhadas
por esse Brasil, invocam São Sebastião como seu Padroeiro e neste mesmo dia,
iniciam o novenário em preparação a sua festa, celebrada liturgicamente no dia
20 de janeiro. Em nossa comunidade, tradicionalmente realizamos a festa no final do mês de novembro, o que já tornou-se parte da história de fé do nosso povo equadorense.
Viva São Sebastião!
SÃO SEBASTIÃO - UM BATALHADOR
DA FÉ
Nesta novena procuraremos
responder a pergunta: "Mas quem foi mesmo São Sebastião?" E ainda:
"O que ele tem a dizer a nós cristãos do Novo Milênio?" Refletindo
bem, iremos perceber que a vida deste santo poderia ter se passado ontem ou
hoje mesmo, aqui, no nosso Brasil ou até em nossa comunidade. Com efeito, e uma
nota característica da Igreja, em todos os tempos, ser perseguida e sofrer o
martírio. Nos dias atuais esta realidade se faz presente de maneira bem
acentuada. Quem decide viver a fundo a opoção preferencial pelos pobres, deve
estar disposto a "perder a sua vida"por causa do Evangelho.
VAMOS REFLETIR JUNTOS:
Começando a nossa reflexão,
podemos dizer que não existe católico que não tenha ouvido falar, ao menos uma
vez, a respeito de São Sebastião. De fato, o nosso santo padroeiro foi um
cristão que se tornou famoso por sua valentia e coragem, nos primeiros tempos
da Igreja. Nasceu em Narbona, uma cidade perdida no imenso império romano, que
então dominava o mundo. Hoje ela ainda existe. Encontra-se no sul da França,
que naquela época fazia parte da província das Gálias.
ENTREMOS NA NARRATIVA:
Diz a história que, quando
Sebastião era ainda pequeno, sua família mudou-se para a cidade de Milão, bem
mais próxima de Roma, que era a capital do Império. Ali morreu o seu pai,
ficando o menino entregue aos cuidados maternos. A sua mãe era cristã, e isto
não era tão comum naquela época, lá pelo ano 284. Os cristãos eram perseguidos
como inimigos do Estado pelo fato de não adorarem aos deuses pagãos. Todos os
que adotassem essa nova religião seriam aprisionados e lhes eram confiscados os
seus bens.
Daí então, a mãe de Sebastião, sendo cristã, transmitiu ao filho o dom da fé cristã. Fé vivia e verdadeira que nos compromete em tudo e sempre. Assim começa a história de um santo, início de uma vida como de qualquer vida.
Daí então, a mãe de Sebastião, sendo cristã, transmitiu ao filho o dom da fé cristã. Fé vivia e verdadeira que nos compromete em tudo e sempre. Assim começa a história de um santo, início de uma vida como de qualquer vida.
A PERSEGUIÇÃO
Faz muito tempo que Sebastião
viveu; tantos séculos atrás, no alvorecer da era cristã. Por causa de sua vida,
em conflito com a dos demais, em Roma, os cristãos começaram a ser perseguidos
e Sebastião tomou uma decisão importante: iria para Roma e tentaria ajudar os
cristãos de lá, confiando na sua fé e no prestígio que gozava como soldado fiel
e corajoso.
Agora é que começa a segunda
parte da vida do jovem oficial do império. Estamos no ano 303. Desde o ano 63,
quando Nero era imperador romano, os cristãos foram quase, ininterruptamente,
perseguidos. De tempos em tempos, um imperador declarava o extermínio sumário
dos cristãos. Cada um deles decretava uma perseguição mais feroz do que outra.
A perseguição, a que nos referimos, iniciou-se precisamente no dia 23 de
fevereiro de 303 e foi ordenada pelo imperador Diocleciano com o seguinte
decreto:
"Sejam invadidas e
demolidas todas as Igrejas! Sejam aprisionados todos os cristãos! Corte-se a
cabeça de quem se reunir para celebrar o culto! Sejam torturados os suspeitos
de serem cristãos! Queimem-se os livros sagrados em praça pública! Os bens da
Igreja sejam confiscados e vendidos em leilão!"
Por três anos e meio correu
muito sangue e não houve paz para os inocentes cristãos!
Sebastião, logo que chegou a
Roma, foi promovido a oficial. O imperador cativado pela fibra e personalidade
deste jovem o nomeou comandante dos pretorianos, seus guardas-pessoais.
Um alto cargo, sem dúvida.
Cargo de confiança e de influência. No exercício deste ofício, porém, Sebastião
estava exposto aos perigos da corte. Sua vida talvez não corresse perigo, mas
sua fé poderia ser abalada e suas convicções transformadas.
A corte era um resumo de
todos os vícios e depravações existentes no Império. O próprio imperador
Diocleciano, filho de escravos, conseguiu o poder às custas de assassinatos.
Era de uma avareza que se tornou proverbial. Os tributos, que explorando o
povo, o levaram, em pouco tempo, à extrema miséria.
Nesta vida, dois são os
caminhos a seguir e que conduzem a lugares diferentes: existem caminhos fáceis,
largos... que levam à perdição e existem caminhos ásperos, estreitos,
íngremes... que levam à salvação.
Podemos imaginar a quantos
perigos a fé de Sebastião esteve exposta. Não é só de hoje que costumamos
dizer: "O mundo está perdido!"
Para o cristão, qualquer
tempo é tempo de provação e de tentação. Em todo tempo, porém, é preciso
perseverança na virtude da fé.
De fato, é na hora da
provação que a verdade aparece transparente. É nas dificuldades que se prova
até onde vai a nossa fé em que medida somos capazes de entregar a vida por
alguém. O viver, a fundo, o Evangelho, é oferecer a própria vida, se isso for
exigido.
Durante esse tempo de
perseguição, Sebastião trabalhava na corte. Ocultava com muito cuidado sua fé
cristã, não com medo de morrer, mas para cumprir melhor o seu papel: encorajar
seus irmãos na fé e na perseverança, especialmente os mais tímidos e
vacilantes, merecendo, com isso, o título de "auxílio dos cristãos".
Assim sendo, muitos cristãos
aprisionados e temerosos de sua morte, após ouvirem Sebastião, sentiam-se
revigorados e destemidos, prontos a enfrentar a tortura e a morte por amor a
Cristo. Não mais os amedrontava o cárcere e a crueldade nos suplícios.
Entretanto, havia uma razão
para explicar a força que sustentava os cristãos em suas provações e essa força
era o amor, seguido do despreendimento, a fé e a esperança em Cristo
ressuscitado. Sebastião sabia perfeitamente de tudo isso e por esse motivo
passava de cárcere em cárcere, visitando e animando os irmãos a se manterem
firmes na fé, mostrando que na vida, os sofrimentos são passageiros e que o
prêmio reservado aos perseverantes na fé é eterno.
Sendo chefe da guarda
imperial, tinha livre acesso, de entradas e saídas, sem maiores complicações. E
muitos dos que ouviam suas palavras se convertiam. Foi numa dessas visitas a
presos que o carcereiro e sua mulher Zoe, alguns parentes dos presos e demais
funcionários da prisão, tiveram oportunidade de ouvir suas comvincentes
palavras.
Conta-se que enquanto
Sebastião falava, Zoe, que era muda, começou a falar. Diante desse fato, ficaram
maravilhados, o carcereiro e todos os presentes e logo se dispuseram a aceitar
a fé cristã, professada por Sebastião. Os cristãos estavam presos, mas não a
Palavra de Deus. A Palavra do Senhor, de fato, não está acorrentada. Ela é
Caminho, Verdade e Vida para todos nós!
O caminho do cárcere era
escuro, mas o cristão o alumiava com a sua fé; o lugar era frio, mas ele o
aquecia com suas preces fervorosas e cantos inspirados. Apesar das correntes,
estava, pelo poder de Deus, livre para Ele. Na pressão esperava a sentença de
um juiz, contudo sabia que estava com Deus e Ele julgaria os mesmos juízes.
Mas enquanto alguns resolvem
iniciar seu processo de conversão, outros continuam tramando o mal. De fato, a
perseguição sistemática do imperador Diocleciano torna-se cada vez mais
violenta, exigindo dos cristãos, muita coragem e heroísmo.
Aqui acontece um fato que vem
amenizar a vida dos perseguidos. O Prefeito da cidade de Roma, Cromáceo,
convertido ao cristianismo, demitiu-se do cargo e começou a reunir, ocultamente,
em sua casa, os recém-convertidos e, desta forma, estes não eram molestados.
Ele sabia que muitos não resistiriam ao martírio, caso fossem presos. Então
sugeriu que todos aqueles fossem para longe de Roma. Ali estariam protegidos da
feroz perseguição. Seguiam, assim, o que Jesus havia sugerido no Evangelho:
"Se vos perseguirem numa cidade, fugí para outra!"
À medida que aumentava a
perseguição, os companheiros que Sebastião tinha instruído e convertido à fé
cristã, iam sendo descobertos, presos e mortos. A primeira foi Zoe, esposa do
carcereiro. Foi surpreendida e presa quando rezava no túmulo dos Apóstolos
Pedro e Paulo. Recusando prestar culto aos deuses romanos, foi queimada e suas
cinzas foram jogadas no rio Tibre, em Roma.
O sacerdote Tranquilino, por
sua vez, foi apedrejado e seu corpo exposto ao ludíbrio popular. Ao resgatar os
corpos dos mártires, vários amigos de Sebastião foram descobertos e presos.
Entre eles se achavam: Cláudio, Nicostrato, Castor, Vitoriano e Sinforiano.
Durante dias, os inimigos da fé cristã pelejaram com eles para que renegassem a
fé, mas nada conseguiram. Por fim, o imperador ordenou que fossem atirados ao
mar.
A perseverança é a palavra
chave, reveladora do segredo e do sucesso dos cristãos. Eles redobravam suas
orações e jejuns, pedindo a Deus que os fortalecesse para o combate.
Mantinham-se firmes na convicção de que é Deus quem dá a perseverança e a
vitória.
"Os magistrados que
julgam as leis do Império, aceitem todas as acusações que se façam contra os
cristãos, e nenhum apelo ou desculpa se admita na defesa dos réus!"
Como se vê, não havia
absolutamente, direito de defesa... Os cristãos eram acusados das coisas mais
absurdas: de incendiar casas e cidades, de comer carne humana, de querer tomar
o poder e outras coisas inacreditáveis...
Sebastião já não podia
continuar ocultando sua fé, por ter se tornado luz que ilumina a todos. E um
dia alguém o denunciou ao prefeito, por ser cristão. O imperador também foi
cientificado e recebeu todas as informações. Deixar Sebastião em liberdade
representava um grave "perigo" para a cidade inteira. Então, mandou
que o chamassem para ouvir dele próprio a confirmação.
Acuado e acusado de todos os
lados, preparou-se o soldado cristão para assumir a sua missão. Ainda podia
fugir, podia voltar atrás, mas não o fez: ficou firme em sua fé e assumiu o
acontecimento iminente. Ele anunciou o Reino de Deus, denunciou a inutilidade
dos ídolos da sociedade, suas injustiças e falsas ideologias, seus mitos e seus
pecados. Tinha se comprometido e, por isso, agora devia pagar o devido preço.
O cristão, para ser tal, deve
se assemelhar a Jesus, o servo de Javé. Sua missão é testemunhar a Palavra de
Deus que é verdade, direito, justiça, paz, fraternidade e amor. Este testemunho
porém, tem um preço, as vezes, muito alto: o cristão é marginalizado, rejeitado
por todos, até a morte.
Sebastião percebe, no
entanto, que o silêncio de Deus é somente o intervalo entre duas palavras
fundamentais: Morte e Ressurreição! Ele já está pronto para responder, com seu sangue,
às perguntas dos inimigos do bem e da verdade.
Revestido da cintilante
couraça e ostentando todas as insígnias merecidas, Sebastião se apresenta
diante do imperador que o interroga. Diante dos presentes estupefatos, confessa
sua fé e diz resolutamente ser cristão. O imperador logo o acusa de traidor.
Sebastião lembra que esta acusação é uma absurda mentira, pois até agora tem
cumprido fielmente seu dever para com a Pátria e o imperador, protegendo-lhe a
vida em muitas circunstâncias.
O imperador estava imaginando
uma forma original, diferente, de executar a sentença de morte que iria
pronunciar contra o seu mais fiel oficial. Mandou chamar o comandante dos
arqueiros de numídia, homem originário de uma região desértica da África, onde
a caça só era possível com as flechas e o incumbiu de executar a sentença
capital do oficial cristão.
O imperador ordenou que
amarrassem o soldado cristão a uma árvore, num bosque dedicado ao deus Apolo.
Que o crivassem de flechas, mas não atingissem seus órgãos vitais, para que
morresse lentamente. Assim foi feito! Com a perda de sangue e a quantidade de
feridas, Sebastião desmaiou, já era tarde! Julgando-o morto, os flecheiros
retiraram-se.
Alguns cristãos que haviam
preparado o necessário para o enterro, foram buscar o corpo. Provavelmente
subornaram os carrascos dando-lhes dinheiro para conseguir o corpo do mártir.
Qual não foi a surpresa daqueles cristãos, quando perceberam que Sebastião
respirava ainda. Estava vivo... Levaram-no à casa da matrona Irene, esposa do
mártir. Caustulo e, com muito cuidado, foram curando-lhe as feridas.
Alguns dias se passaram,
Sebastião já havia se recuperado dos ferimentos e estava disposto a ir até o
fim. Não fora ele chamado "defensor da Igreja" pelo próprio Papa? Se
ele a tinha defendido antes, às ocultas, agora a defenderia publicamente, para
que todos pudessem escutar a defesa da Igreja, ali reduzida ao silêncio.
Chegou o dia 20 de janeiro.
Era o dia consagrado à divindade do imperador. Este saiu em grande cortejo de
seu palácio e dirigiu-se ao templo do deus Hércules, onde seriam oferecidos os
sacrifícios de costume. Estando coroado pelos sacerdotes pagãos e pelos homens
mais nobres do império, foi concedida uma audiência pública. Quem desejasse
pedir alguma graça ou apresentar alguma queixa, poderia faze-lo nesta ocasião,
diante do soberano.
Sebastião, com toda a
dignidade que sempre o distinguiu e cheio do Espírito Santo, apresentou-se
diante do imperador e, destemidamente, reprovou-lhe o comportamento em relação
à Igreja. Reprovou-lhe as injustiças, a falta de liberdade e a perseguição aos
cristãos. O imperador ficou estarrecido ao reconhecer naquela pálida figura, a
pessoa de seu antigo oficial que o julgava morto. Tomado de ódio, ordenou aos
guardas que o executassem ali, em sua presença e na presença de todos. Ele
mesmo queria ter a certeza de sua morte.
Imediatamente, os guardas
investiram contra ele, e o moeram de pancadas com cassetetes e com os cabos de
ferro de suas lanças, até que Sebastião não deu mais sinal de vida. O imperador
ordenou, então, que o cadáver do oficial traidor fosse jogado no esgoto da
cidade e, assim, seria apagado, para sempre, a sua memória.
Sebastião, como todo cristão,
tinha esta firme convicção: se Cristo ressuscitou, todos nós ressuscitaremos
com Ele, pois, pelo Batismo, fomos incorporados ao seu corpo glorioso. A morte
já não é o fim, não é o ponto final e definitivo. Ela foi superada, tornou-se
apenas uma porta para a verdadeira vida!
Neste caminhar, um mistério
nos ultrapassa, a saber participar da vida de Cristo, significa despojar-se de
si mesmo e aceitar cooperar com sua missão essencial de salvação, que passa
pela cruz e pela morte. Assim como nenhum cabelo de nossa cabeça cai sem que
Ele o permita, nenhum fato ou acontecimento escapa ao seu conhecimento.
Durante a noite, um grupo de
cristãos foi até o local onde o corpo de Sebastião tinha sido jogado. Os homens
desceram à muralha que cercava o canal, pelo qual corria o esgoto da cidade.
Com o rio Tibre estava na vazante, o corpo de Sebastião ficara preso a um
ferro. Levado para a catacumba, ali foi enterrado com todas as honras as honras
e veneração dos cristãos, aos quais ele tanto servira e amara.
São Sebastião, por tudo
aquilo que fez e enfrentou, é um santo muito popular. É invocado como protetor
contra a peste, a fome, a guerra e todas as epidemias. Mas de onde vem esta
devoção?
Entre os antigos, as flechas,
eram símbolos da peste pelas feridas cancerosas que provocavam. Assim sendo, a
piedade cristã, sabendo que em seu primeiro martírio Sebastião havia sido
sufocado por uma saraivada de flechas, escolheu-o para ser protetor contra o
flagelo da peste, epidemia arrasadora, especialmente nos tempos passados, mas
que ainda hoje é bastante temível.
Mas foi no ano 680, quando
uma grande peste vitimara toda a Itália, que os fiéis recorreram a São
Sebastião, fazendo voto de erigir uma Igreja a ele dedicada, se a peste
cessasse. E a peste realmente cessou! Desde então, São Sebastião passou a ser
invocado contra a peste e suas irmãs a fome e a guerra.
São Sebastião, Rogai por Nós!
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