O Dízimo não é uma novidade, nem uma invenção da Igreja católica ou de
qualquer outra Igreja cristã. Encontramos o Dízimo desde as primeiras páginas
da Bíblia. Inicialmente em forma de "primícias", oferecidas ao Senhor
por Abel e Caim (Gn 4,3-5). Abraão é o primeiro a falar em "dízimo" e
oferece ao Senhor, através do sacerdote Melquisedeque, a décima parte de todos
os bens que o Senhor colocou em suas mãos (Gn 14,18-20). Jacó promete dar ao
Senhor, em troca da sua assistência, o dízimo de todos os seus bens (Gn
28,20-22).
O que inicialmente foi um gesto espontâneo, expressão de fé, de
reconhecimento e de gratidão para com Deus, Senhor da vida e de todos os bens,
a partir de Moisés passa a ser uma obrigação para todos os filhos de Israel. O
dízimo se torna obrigatório por Lei. Deuteronômio, Levítico, Números, são os
livros do Antigo Testamento que falam do "dízimo legal do povo". Pelo
fato de ser "legal", o dízimo não deixa de ser um gesto de fé, de
amor, de reconhecimento a Deus, e um gesto de partilha com os irmãos mais
carentes da comunidade: os levitas, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros.
O dízimo garante a manutenção do Templo, centro de toda a religiosidade
do povo, garante a celebração do culto e, indiretamente, contribui para a
unidade e o crescimento moral do povo de Deus. Todas as vezes que o povo começa
a descuidar do dízimo, os sacerdotes que eram sustentados por ele são obrigados
a procurar o próprio sustento. Os templos são abandonados, o culto é
prejudicado, a religião entra em crise e, com ela, a vida moral do povo. Por
isso, sempre que o povo de Israel precisa de uma reforma, esta começa pela
restauração imediata do dízimo (Ne 10,33). "Malaquias levanta a voz e fala
de "maldição" para aqueles que são infiéis e querem enganar ao
Senhor, e fala "bênçãos" abundantes para quem dá o dízimo com
fidelidade (Ml 3,9-11)
Jesus Cristo não veio abolir a Lei, mas aperfeiçoa-la. Ele mesmo
praticava a Lei, fiel às tradições sadias de seu povo. Participava das festas
religiosas, ia ao Templo e "pagava o imposto do templo" (Mt
17,23-26), embora condenando a prática escrupulosa do Dízimo, quando coloca em
segundo plano a justiça e a misericórdia. Jesus condena aqueles que, por
praticarem o dízimo, se julgam melhores que os outros, como o fariseu da parábola
(Lc 18,9-14). Mas Jesus tem o cuidado de dizer que é preciso em primeiro lugar
praticar a justiça e a caridade, sem contudo esquecer o cumprimento da Lei (Mt
23,23). Nem Jesus se prende a números. A medida da contribuição para o Reino de
Deus e para os irmãos depende da necessidade da comunidade e da generosidade de
cada um. Por isso, no Novo Testamento não se fala mais em "dízimo"
mas em partilha de bens, o que exige muito mais do cristão.
Sobre o dízimo verificam-se duas posições bem distintas: De um lado, os
que quase não falam sobre o dízimo e de outro, os que falam demais.
Ultimamente, temos lido e ouvido depoimentos de padres e vários pastores
que ficam arrepiados só de pensar em falar sobre o dízimo. Há os que, ao
falarem, o fazem com tal escrúpulo que a impressão que dá é que estão pedindo
desculpas ao povo por tratar de tal assunto.
Por outro lado, temos um comportamento de pessoas que tratam o dízimo
sem o menor escrúpulo e nenhuma ética. E para justificar-se lançam mão de todos
os argumentos possíveis e imagináveis, usando a Bíblia a seu bel-prazer para
alcançar os fins que desejam, nem sempre recomendáveis. É constrangedor
constatar estas situações em muitas Igrejas.
Como é também constrangedor constatar que muitas Igrejas passam a falar
do dízimo só quando estão sufocadas financeiramente, quando as entradas não
correspondem às necessidades. Na maioria das vezes a pregação do Dízimo é para
aumentar o faturamento da paróquia. Se esta for a razão da Pastoral do Dízimo –
aumentar a renda da Paróquia – está desvirtuando-se nossa missão, nosso
compromisso de fidelidade com a palavra de Deus. Independentemente da
necessidade financeira, o dízimo deve ser pregado, assimilado e assumido porque
faz parte dos ensinamentos de Deus ao seu povo. Dízimo não é campanha
financeira para resolver problemas de dinheiro.
A Igreja necessita de recursos para realizar sua missão, e por isso
exorta os fiéis para que assumam sua responsabilidade nesta tarefa, pois
"Igreja somos todos nós e suas necessidades são nossas". A missão da
Igreja é a razão pela qual devemos pregar – sem desvirtuar – sobre o dízimo. A
Igreja é mestra em orientar, ensinar e animar sobre aspectos importantes que
envolve a vida das pessoas, em vista do bem comum e da salvação de todos. A ela
cabe discernimento, quando se tratar de dízimo.
Quando somos convidados a colaborar com a missão da Igreja, somos
lembrados dos pontos essenciais, do que é fundamental: Tudo é de Deus, tudo
pertence a Ele e nada mais somos que administradores fiéis, ou não, disso tudo.
Alguns com muito, outros com pouco. Cada um na proporção do que recebeu, bens e
dons, é responsável pela administração para o bem de todos. E isso independe da
necessidade econômica da Igreja.
Seja você também um dizimista consciente! Partilhe o amor!
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