O mundo assiste horrorizado à matança na Síria. Em 19 meses de lutas entre governo e rebeldes, morreram 32 mil pessoas, segundo a ONU. Pois aqui no Brasil, no mesmo período, foram assassinadas 85 mil pessoas, segundo projeção de dados do IBGE e do Ministério da Saúde. Abro jornais, revistas, ligo a TV, ouço o rádio, e o que mais aparece são conselhos de como se precaver de assaltos e sequestros. A sensação que se tem é que, se os governos não têm competência para cumprir seus deveres de dar segurança aos cidadãos, então empurram a responsabilidade para as vítimas. As pessoas que se acautelem e se defendam como puderem. Vale lembrar que um dos conselhos que as autoridades dão é: "Não reaja."
O país, além de não ter competência para conter o crime e as drogas que em geral estão na raiz da violência, ainda pede que não reajamos. A turba de incompetentes avisa os bandidos: podem assaltar, sequestrar, que estamos recomendando passividade aos cordeiros. No referendo de 2005, 64% dos eleitores disseram "não" ao desarmamento porque sabem que os bandidos não são desarmados. E que não se deve deixar o assaltante com a certeza de que a vítima está desarmada e não vai reagir. Os bandidos percebem a confusão das autoridades e matam até policiais. Já são cerca de 90 policiais mortos neste ano em São Paulo.
Armas e drogas entram no país com facilidade e vão para os bandidos e traficantes. Os viciados sustentam os traficantes e seus ramos criminosos. E o resultado é a falta de segurança em todas as cidades, não importa o tamanho. Quando se começa a ler os decálogos das autoridades, sobre tudo que temos que fazer para nos prevenir, talvez a gente conclua que o melhor é se mudar para o Chile, por exemplo. O Brasil é uma consequência do enfraquecimento da lei. E não podemos dizer que a culpa é só daqueles que assumem cargos sem competência. A responsabilidade também é nossa, quando não fazemos a nossa parte. Ou será que é apenas o outro que sonega, passa sinal fechado, faz barulho para o vizinho, joga papel na rua e vota em safado? Nós somos parte da bagunça nacional.
Estamos num beco sem saída. Cedemos, nos alienamos, calamos, deixamos nossa energia em clubes de futebol. Estamos com 150 homicídios por dia. A Síria é fichinha, perto da nossa matança. Sem contar mais de 200 mortos por dia no trânsito sem lei. E esse fruto amargo e sangrento que estamos colhendo não aparece de repente. Foi resultado de uma longa semeadura - e durante anos adubamos as sementes do mal. Agora aí está a colheita, a nos oferecer a paz de cemitério.
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