Na tragédia de Sêneca, Medeia deixou a frase que é princípio básico para investigações e para julgamentos. Numa tradução livre, ela diz: "Quem tirou proveito, foi quem fez(verso 500)." E no verso seguinte: "Aquele a quem o crime leva vantagem, ele o cometeu." Quando há um assassinato, a primeira pergunta que a polícia faz é: "Interessa a quem? Quem ganha com isso?" Cui prodest? - quem se aproveita? - é o adágio consagrado, em latim. Os juízes do Supremo passaram a examinar agora quem teve vantagem, quem ganhou com o esquema que, segundo já decidido pelos juízes da Corte Suprema, usou verbas públicas e falsificou operações de crédito para remunerar políticos.
Recebi, pela internet, uma foto significativa tomada pelas costas do ministro-relator Joaquim Barbosa, com a imensa capa preta, sugerindo semelhança com o Batman. Respondi que agora só falta pegar o curinga. (Atenção, revisão, curinga com minúscula e "u" mesmo, pois estou usando como adjetivo e não como o nome do arquiinimigo do Morcego.) Curinga é a pessoa que está em todas, como a carta de baralho que serve para tudo. Ou é quem dá a sinalização para que as coisas sejam como o curinga quer.
Segundo o libelo do procurador-geral, o curinga do caso seria o então ministro José Dirceu, que servia ao presidente Lula como negociador político. Delúbio Soares, tesoureiro do PT, também seria o tesoureiro do esquema que Roberto Jefferson batizou de mensalão com impropriedade, porque não era exatamente mensal. José Genuíno entrou nessa como presidente do partido e até como avalista de supostos empréstimos de milhões, embora não tivesse garantias para isso. E vem um lista de mais 20 réus, todos abastecidos pelos milhões do esquema. A Ministra Carmen Lúcia já deixou, no julgamento, uma frase não tão lapidar quanto à da Medeia de Sêneca: "O dinheiro é para o crime o que o sangue é para a veia."
Nunca um julgamento foi tão acompanhado quanto esse. Nunca se perguntou tanto sobre como irá terminar. O interesse vem da surpresa das condenações já estabelecidas e do reconhecimento do tráfico de dinheiro público, contrastando com a cultura da impunidade. Mas surpresa maior está atingindo os réus, que estavam confiantes em seus superpoderes - os de serem mais iguais que os outros, tão parecidos com aqueles personagens de "A Revolução dos Bichos". Mas surpresa das surpresas será o Batman pegar o curinga.
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