O cardeal dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, concedeu entrevista aos principais jornais de São Paulo, no dia 15 de setembro, na qual afirma que "A Igreja não pode ter pretensões de poder". O jornal O Estado de São Paulo considerou as palavras do cardeal no contexto das discussões sobre participação política de igrejas na campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo (SP).
Leia, na íntegra, matéria assinada por Roldão Arruda, publicada neste sábado, 15 de setembro, no jornal "O Estado de São Paulo":
As declarações do presidente da CNBB e arcebispo de Aparecida ocorrem um dia após a divulgação de uma nota da Arquidiocese de São Paulo com ataques ao PRB, partido de Celso Russomanno, líder nas pesquisas.
O texto, redigido a pedido do arcebispo d. Odilo Scherer, acusa diretamente o presidente do partido e coordenador da campanha de Russomanno, Marcos Pereira, pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. Diz que ele, em artigo publicado em maio de 2011, fomentou a discórdia e fez críticas destemperadas aos católicos – texto publicado no blog de Pereira vinculava a Igreja Católica ao chamado "kit gay", material que se propunha a combater a homofobia. "Se já fomentam a discórdia, ataques e ofensas sem o poder, o que esperar se o conquistarem pelo voto?", disse a nota da Arquidiocese de São Paulo.
Apesar de ter sido publicado há um ano e meio, o artigo do presidente do PRB voltou a circular nas redes sociais depois que um usuário falso no Twitter passou a enviá-lo várias vezes ao dia a padres e ao perfil do próprio arcebispo. A página falsa foi criada no dia 10 e só publicou mensagens sobre o texto de Pereira.
Na sexta, ao comentar a mistura entre religião e política na campanha eleitoral de São Paulo, d. Raymundo foi enfático: "A posição da Igreja Católica, enquanto instituição, é de que não deve assumir nenhuma posição político-partidária. O papa Bento 16, numa de suas encíclicas, Deus É Amor, foi muito claro ao dizer que a Igreja não pode nem deve tomar nas suas mãos a batalha política. Isso é próprio dos políticos, dos leigos. A Igreja não pode ter pretensões de poder."
Indagado se tal posicionamento deveria valer para outras igrejas, respondeu: "Dentro da minha perspectiva, valeria. No mundo democrático, o papel que cabe ao Estado e aos leigos não é o mesmo da igreja, cuja função é de orientar o eleitor." Ainda segundo o líder da CNBB, "não cabe à igreja assumir papel de protagonista no campo político".
D. Raymundo contou que, assim como líderes evangélicos, também é procurado por políticos de diferentes partidos e que essas visitas são mais frequentes nos períodos de eleições para governador e presidente.
"Sempre o fazem de maneira discreta, sem fotógrafos, nem assessores de imprensa", disse. "Vêm para dialogar e mostrar seus projetos. Eu sempre digo que podem contar com o meu apoio em tudo aquilo que diz respeito ao bem da cidade e da população, independentemente de seu partido. Não podemos instrumentalizar a religião para angariar votos, evidentemente."
O presidente da CNBB não quis comentar diretamente a nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo, alegando que não havia tido acesso à sua íntegra.
Acompanhamento
Dom Raymundo disse que a Igreja acompanha o processo eleitoral em todo o País, com orientações para o voto consciente e estímulos aos leigos que desejam participar como candidato. "A Igreja estimula, apoia, vê com bons olhos o leigo que se sente chamado para a política", afirmou. "Queremos que ele não tenha medo de assumir posições político-partidárias. Isso é fundamental, porque a sociedade justa vai ser resultado da ação de homens políticos, homens públicos. Eles é que devem trabalhar para uma sociedade mais solidária."
Já ao jornal Folha de São Paulo,o cardeal afirmou que a Igreja não quer se colocar no lugar dos políticos.
Leia a íntegra da matéria escrita por Daneil Carvalho para a Folha de São Paulo:
Um dia após a Arquidiocese de São Paulo ter atacado a Igreja Universal, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Raymundo Damasceno, 75, disse nesta sexta-feira (14) que a Igreja Católica não quer se colocar no lugar dos políticos.
"Damos critérios e deixamos o eleitor muito livre no exercício de seu direito e dever. O papa diz muito claramente que a Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política. Isso é próprio do político, do Estado", declarou.
"A Igreja não quer se colocar no lugar dos políticos, não quer se colocar no lugar do Estado. Mas a Igreja não pode ignorar a política", completou o arcebispo de Aparecida (180 km de São Paulo).
Especificamente sobre a nota da Arquidiocese de SP que ressalta a ligação de Celso Russomanno (PRB) com os evangélicos, dom Raymundo disse que não leu o texto e que essa foi uma "orientação" pontual "porque o problema é lá [SP]".
"Aqui [em Aparecida] não estou tendo nenhum problema com a [Igreja] Universal. Cada diocese tem sua realidade própria", afirmou.
Dom Raymundo recebeu a Folha em sua sala, no Seminário Bom Jesus, em Aparecida. Sentado na cabeceira de uma mesa de reuniões, começou a conversa consultando papéis onde havia frases prontas. Ao longo da conversa, livrou-se do roteiro, mas procurou evitar polêmicas todo o tempo.
Questionado sobre o uso da estrutura da Universal para campanha de Russomanno, por exemplo, disse: "Não entraria nisso porque não é da Igreja Católica. Não sei como eles veem essas questões. Falo da nossa orientação. Você não vê nenhum bispo tomando partido político de nenhum candidato".
Segundo ele, a Igreja Católica só faria campanha eleitoral diante de um caso excepcional: "Por exemplo, todos os candidatos contra a Igreja. Aí, é claro, tem que tomar partido. O correto é orientar, dar critérios, formar".
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